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domingo, 14 de agosto de 2005

Justiça para quem precisa


No século XVII, Jean de La Fontaine reescreveu e adaptou as fábulas de Esopo, além de criar novas histórias. Nesta época, valorizavam-se histórias sobre heróis belos e bons, leais e justos, mas os poderosos enriqueciam explorando os camponeses. Para denunciarestas injustiças, La Fontaine, criticava o comportamento da sociedade contando fábulas em versos, pois a poesia, além do teatro, era muito valorizada. Foi neste tempo que começou a separação entre mundo infantil e mundo adulto. As histórias
foram adaptadas para crianças retirando-seos elementos violentos, considerados prejudiciais à educação.Na realidade nem sempre o bem vence o mal e La Fontaine questionava os valores da época e denunciava as misérias da sociedade usando a ironia, pois conspirar contra poderosos levava à morte. Conta-se que para protestar contra a prisão injusta de seu amigo Nicolas Fouquet, superintendente de finanças do rei da
França, Luís XIV, ele publicou a seguinte fábula:










O Lobo e o Cordeiro

Na água limpa de um regato,
matava a sede de um Cordeiro,
quando, saindo do mato,
veio um Lobo carniceiro.


Tinha a barriga vazia,
não comera o dia inteiro.
- Como ousas sujar
a água que estou bebendo?
- rosnou o Lobo, a antegozar
o almoço. - Fica sabendo
que caro vais me pagar!


- Senhor - falou o Cordeiro -
encareço à Vossa Alteza
que me desculpeis, mas acho
que vos enganais:bebendo,
quase dez braças abaixo
de vós, nesta correnteza,
não posso sujar-vos a água.


- Não importa. Guardo mágoa
de ti, que ano passado,
me destrataste, fingido!
- Mas eu nem tinha nascido.
- Pois então foi teu irmão.
- Não tenho irmão, Excelência.
- Chega de argumentação.
Estou perdendo a paciência!
- Não vos zangueis, desculpai!
- Não foi teu irmão? Foi teu pai
ou senão teu avô -
disse ao Lobo carniceiro.
E ao Cordeiro devorou.


Onde a lei não existe, ao que parece,
A razão do mais forte prevalece.



Fábulas de La Fontaine. Tradução de Ferreira Gullar.
Rio de Janeiro, Revan, 1997.

Tantos argumentos para nada? Sempre a decisão dos poderosos sem levar em conta a opinião do cordeirinho?
Sabemos que sem padrões de justiça não é possível administrar a sociedade. A corrupção atinge todas as esferas da sociedade. Estamos num clima de desconfiança generalizada e o desprezo à lei dá lugar ao oportunismo, incentivando comportamentos desonestos.O que podemos e devemos fazer além de
ficar tão somente criticando, pois o povo diz que falar é fácil, difícil é fazer?

4 comentários:

  1. É verdade Fátima.
    Vivemos numa sociedade desprovida de ética, esta ética de viver com seriedade.
    E quanto mais alto o escalão, mais sujeiras no topo...
    Obrigada pelo coment no Portal..
    Vc como sempre, enriquece minha casa com sabedoria..
    Beijssss

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  2. Blig show!
    Agora, falar de etica acho meio complicado...
    O que é etica?Pra quem?Onde?
    Mas, é isso...
    Abraços

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  3. Há um médico americano que diz que esta falta de ética é resultado de uma educação voltada ao dinheiro, ao sucesso, à competição, à valorização de quem tem muito, ao status, etc. Não se ensina amor e solidariedade na escola, não como elementos protagonistas da nossa sociedade, mas sempre como figurante na história.
    Agora não se pode esperar que a ética se desenvolva em toda sua plenitude dentro do capitalismo. É preciso pensar em outra forma de organização social.

    Mudando de assunto, convoco todos os amigos blogueiros a reclamar para o Blig a não inserção do blig-link no comentários. Com certeza está havendo um erro de programação.

    Um abraço

    tubaranhao.blig.ig.com.br

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  4. Cara Fátima,
    o blog de vocês está maravilhoso.
    Meus parabéns!
    Visite o meu.
    Vou postar alguns textos em breve.
    Um abraço,
    Anna Paula
    http://midiasnaescola.blogspot.com

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